sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Como vive Sean Goldman


ÉPOCA visitou o menino pivô de uma disputa judicial entre Brasil e Estados Unidos, que pode envolver até Lula e Barack Obama

REDAÇÃO ÉPOCA

Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 7/março/2009.



Álbum de família
BRASILEIRO
Sean posa com uma réplica da taça da Copa do Mundo, com o padrasto e a mãe, em foto da época do mundial de futebol de 2006

Sean Bianchi é um menino bonito, esperto e amoroso, com quase nove anos de idade e dupla nacionalidade: brasileira e americana. Nasceu em Nova Jersey, EUA, mas vive desde os quatro anos no Rio de Janeiro. Não desgruda da nonna (avó, em italiano), anda enganchado nela. Ambos são bronzeados, de cabelos e olhos castanhos. Orgulha-se de ser craque no basquete e "bamba" em Matemática e redação. Não gosta de estudar História. Quando consegue ficar parado, tem mania de mexer nas medalhinhas de seu cordão: uma tem a imagem de Iemanjá; outra, a inscrição Agnus Dei ("cordeiro de Deus" em latim); a terceira, um trevo de quatro folhas; e a maior, fina e delicada, o rosto da mãe.

Sean perdeu a mãe tragicamente, em setembro do ano passado: Bruna, estilista carioca, morreu aos 33 anos, ao dar à luz Chiara. Desde então, Sean consulta uma psicóloga uma vez por semana. Vive em um apartamento de 250 metros quadrados em um condomínio de luxo no Jardim Botânico, junto à Lagoa, no Rio de Janeiro, com varandão, plantas, obras de arte e tapetes antigos. Mora com uma grande família: os avós maternos, Silvana e Raimundo, um tio que é quase um irmão mais velho, Luca Bianchi – ator, surfista e peso-pena faixa-preta de jiu-jitsu. Divide o quarto com o padrasto, a quem chama de pai, João Paulo Lins e Silva. Na verdade, Sean começa seu sono toda noite na cama de casal da avó, e depois João Paulo o encaminha, quase sonâmbulo, para o quarto colorido, com painéis de elefantes e outros bichos na parede. Não dá mais para carregá-lo nos braços, como antes. Jogos medievais no computador e vários esportes, conjugados com o surfe de fim de semana na Praia Rasa em Búzios, compõem a vida de Sean. Além das broncas que leva quando deixa roupas no chão do quarto, Sean é acompanhado nos deveres de casa por uma família que diz querer, acima de tudo, seu bem-estar. Tem sorte. É evidente, para quem passa o dia na casa, que ele se sente amparado mas não mimado, e que prefiriria continuar anônimo. Até a mãe morrer, ele era apenas "Shan", "Sam", "Shon", um garoto popular entre os amigos, mas com nome esquisito.

Se tivesse de superar apenas a perda prematura da mãe, Sean Richard Bianchi Carneiro Ribeiro Goldman (seu nome completo) seria um menino privilegiado. Mas ele está no centro de uma disputa judicial rancorosa entre duas famílias – e entre dois países, o Brasil e os Estados Unidos. Uma briga que transcendeu as paredes do lar e se tornou um imbróglio diplomático, um circo internacional, com o rosto de Sean e imagens de seu passado estampados na internet pelo pai biológico, o ex-modelo David Goldman, hoje sócio de uma empresa náutica que organiza passeios.

A família de Sean no Rio só abriu a casa com exclusividade para a ÉPOCA depois de muito relutar, porque o caso adquiriu dimensões políticas e de mídia lá fora. E porque, segundo a versão do padrasto, dos avós e do tio de Sean, o pai biológico, David Goldman, se empenhou, desde a morte de Bruna, numa "campanha de calúnias" contra a família brasileira.

À reportagem de ÉPOCA, a família revelou que, quando se separou de Goldman, Bruna disse que tinha medo de ficar sozinha com o marido em um país estrangeiro porque, quando discutiam, ele ficava violento e dava socos nos móveis, esmurrava as paredes. Por isso teria pedido o divórcio e decidido ficar no Brasil.

Depois da separação do casal, Goldman abriu um processo contra a ex-mulher e os ex-sogros por sequestro e violação da Convenção de Haia – que dispõe sobre as crianças levadas de um país para outro. Durante quatro anos, o pai biológico abriu mão de ver o filho para sustentar suas acusações. A família brasileira afirma que se ofereceu para pagar a vinda de Goldman ao Brasil para visitar o filho. Segundo a família, essa nunca foi uma opção para Goldman, que apareceu na porta do apartamento onde Sean vive com agentes da Polícia Federal brasileira, funcionários do consulado americano e uma equipe da rede de televisão americana NBC. O menino não foi encontrado. Passava o feriado em Angra dos Reis.

Segundo a versão da família brasileira, o pai biológico de Sean teria pedido US$ 500 mil (R$ 1,2 milhão) – o que Goldman nega – para tirar o nome dos avós como "co-autores" do sequestro do menino. O acordo acabou sendo fechado em US$ 150 mil (R$ 360 mil).

O que diz o pai, David Goldman
| 1 | O casamento ia bem, o sexo era regular e ele mantinha o trabalho de modelo
| 2 | O pai até hoje não entende a razão de Bruna ter deixado os Estados Unidos com seu filho
| 3 | A família brasileira impede que o pai veja o filho
| 4 | Bruna e Sean – nascido nos Estados Unidos – viviam bem e ele queria que voltassem ao país
| 5 | Os US$ 150 mil que recebeu fazem parte de acordo judicial para retirar o nome dos ex-sogros do processo

O que diz a família da mãe, Bruna
| 1 | O relacionamento ruiu quando Sean nasceu, o sexo minguou e ela sustentava a casa
| 2 | Bruna não premeditou ficar no Brasil e somente conheceu João Paulo seis meses depois da separação
| 3 | A mãe e os avós maternos de Sean nunca receberam nenhum pedido de David para visitar a criança
| 4 | A vida de Bruna e Sean – com dupla nacionalidade – seria melhor no Rio de Janeiro
| 5 | Goldman explora a imagem da criança e teria pedido US$ 500 mil da família para retirar os avós do processo

A família brasileira afirma que David Goldman falsificou a assinatura de Bruna em alguns cheques que ela deixou nos Estados Unidos. Nas imagens, à esquerda, a letra da brasileira segundo a família; à direita, a supostamente falsa.

 Reprodução


Documento cedido pela família brasileira de Sean sugere que David Goldman, pai biológico do menino, teria autorizado a vinda de Bruna ao Brasil com a criança. Goldman afirma que não entende a razão de Bruna ter deixado os Estados Unidos.

 Reprodução

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